Na
cidade de São Felix, interior da Bahia, numa sexta-feira, do dia 21 de março de
1927, tudo transcorria na mais perfeita calma; lá fora, o sol estava quente, o
relógio marcava três horas da tarde. Na casa de dona Julieta Barbosa, o clima
era mais quente ainda. Todos esperavam o nascimento do seu primeiro e único
bebê. Ele veio para a felicidade de todos e o nome escolhido foi Julio de Souza
Barbosa, em homenagem as iniciais do nome do pai e da mãe. Menino sapeca,
gostava de correr atrás de bola, dos bábas com os amigos, mas também era muito
trabalhador e já aos 14 anos, para orgulho da família, já havia se tornado
oficial de pedreiro. No seu tempo livre gostava de exercitar seus dotes
artísticos. Na cidade, todos ficavam admirados com os trabalhos artísticos que
aquele pirralho fazia. O barro, além de uso no trabalho, também servia para
criar suas esculturas. A arte corria no seu sangue. Ainda menino, fez a sua
primeira obra de arte com um sentido mais sério; uma fábrica alemã, instalada
em São Félix, o convidou para criar uma arte para a sua fachada e Júlio criou
uma espécie de garrafa que ficou lá por um longo tempo (a fábrica fechou, mas
ainda existe fotos dessa arte no museu da cidade). Depois desse trabalho ele
nunca mais parou, tudo que pegava era para ser transformado em algo artístico.
Ao ser informado que seu pai estava morando em Itatinga, resolveu procurá-lo
pois ainda não o conhecia e ele já estava com 17 anos, a ansiedade era muito
grande, viajou e chegou na cidade. Para ele foi muito importante esse encontro,
e assim passou a morar com seu Juvino Barbosa da Silva, seu pai. Logo se
enturmou com os boleiros da época e como tinha suas habilidades futebolísticas,
foi convocado para a seleção de Itatinga; o primeiro jogo foi contra a seleção
da cidade de Palestina Bahiana. O técnico o escalou, a seleção venceu por 2 x 1
e São Félix (ele ganhou esse apelido, que lhe foi colocado pelos jogadores,
numa referência a cidade que o mesmo havia nascido) marcou um dos gols da
vitória. Como naquela época não se podia viver do futebol, ele continuou no seu
ofício de pedreiro e nas horas vagas, labutava nas suas artes, sempre criando
coisas novas. Até que ao completar 33 anos, resolveu abandonar a profissão
antiga e partir para fazer o que ele realmente gostava - suas pinturas e
esculturas; e com isso foi se tornando conhecido e admirado naquilo que fazia
de melhor.
Suas
mãos e dedos mágicos deixaram suas marcas na cidade de Itapetinga; são obras de
São Felix, diversos monumentos artísticos no centro da cidade e em diversos
bairros: as esculturas do Zoológico da Matinha; da Praça dos Pioneiros; do Tiro
de Guerra; do estádio ACM; dos Orixás (com outro artista); da Praça Dairy
Walley (também com outro artista); do museu(que antes estava localizado no
centro de Itapetinga) e também em vários colégios da cidade. São Félix viveu
até os 83 anos de idade, residindo por quase 47 anos no interior do Ginásio
Agro Industrial, onde ainda existe sua casinha e várias obras de arte. Ele
seguiu o destino que a vida lhe traçou. Talvez não tenha o seu trabalho
reconhecido por aqueles que poderiam colocá-lo no lugar onde lhe é merecido, mas
a arte não tem preço, e ele costumava sempre dizer essa frase que ele criou e
que marca a sua vida: "Itapetinga, ainda que o destino nos separe! serei
aquele que um dia te embelezou".
TEXTO:
Carlos Maciel
*Itatinga-
antigo nome de Itapetinga.
*Palestina
Bahiana - hoje a cidade de Ibicaraí.
*
texto modificado em 28/01/2011
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