quarta-feira, 25 de setembro de 2013

ROMANCE SOBRE PRIMEIRA CANGACEIRA BRASILEIRA SERÁ LANÇADO EM CONQUISTA



No próximo dia 28 de setembro, às 19h, o romancista Domingos Ailton lança o livro Anésia Cauaçu no Museu Regional da UESB – Casa Henriqueta Prates em Vitória da Conquista. O lançamento conta com apoio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UESB- Proex e da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista.
Anésia Cauaçu, de Domingos Ailton, é um romance histórico que tem como protagonista uma mulher que esteve à frente do seu tempo. Anésia foi a primeira mulher no sertão baiano de Jequié a ingressar no cangaço, a liderar um bando de cangaceiros, a praticar montaria de frente, já que as mulheres de sua época montavam de lado em uma sela denominada silhão, e a vestir calças compridas (as mulheres do período em ela viveu apenas usavam vestidos e saias) nos momentos de combate para facilitar o enfrentamento de jagunços dos coronéis e das tropas policiais, além de ter sido a primeira mulher branca a lutar capoeira, antecedendo mulheres como Maria Bonita, Dadá e Lídia no cangaço. No ano em que nasceu Maria Bonita nasceu, 1911, Anésia Cauaçu já estava no cangaço. O livro se reporta à formação de Ituaçu, antigo Brejo Grande e às brigas de duas famílias da localidade: os Silvas, chamados de "rabudos", e os Gondins, denominados de "mocós”. O major Zezinho dos Laços (um dos líderes dos “rabudos”) exige que Augusto Cauaçu acompanhe seu grupo de jagunços em uma emboscada contra a família Gondim. Por conta da recusa de Augusto, este é assassinado a mando de Zezinho dos Laços. Então, a família Cauaçu se reúne e resolve vingar a morte, assassinando Zezinho dos Laços seis anos depois em uma tocaia na Fazenda Rochedo, com uma bala feita do chifre de um boi preto, que fora confeccionada pelo pai de santo Heitor Gurunga, um sacerdote da religiosidade afro que cuidava do povo pobre da região. O irmão de Zezinho, Cassiano do Areão, o cunhado, coronel Marcionílio de Souza e o filho deste, Tranquilino de Souza, passam a perseguir e matar membros da família Cauaçu e do bando de cangaceiros que acompanha o grupo, comandado por Anésia e seu irmão José Cauaçu.
Anésia Cauaçu lidera e enfrenta vários combates com coragem e uma força extraordinária, já que, em muitos momentos, ela "envulta" (desmaterializa), transformando-se em uma rocha ou toco de árvore.


VIOLÊNCIA DA FORÇA POLICIAL

O governador da Bahia na época, Antônio Muniz, que denomina o movimento armado dos Cauaçus de "conflagração sertaneja”, envia para Jequié e região mais de 240 soldados, fora os oficiais, para combater os Cauaçus, que passam a utilizar táticas de guerrilha para enfrentar a polícia. Em um dos combates, José Cauaçu é ferido e morre 8 dias depois. Anésia é presa, mas depois é libertada, quando concede entrevista de primeira página na edição de 25 de outubro de 1916 do Jornal “A Tarde” sobre a história do bando. A força policial pratica uma série de arbitrariedades contra a população jequieense e da região. O alferes Francisco Gomes faz um homem comer lama no povoado do Baixão, crucifica outro nas margens do Rio das Contas e lança crianças para o ar, que são amparadas com a ponta das baionetas, além de ordenar a matança de muitos outros inocentes cujo genocídio é denunciado na imprensa baiana por veículos, como Diário de Notícias" e Jornal “A Tarde”.

FICÇÃO E FATOS REAIS

O romance se reporta também a episódios envolvendo personagens da República Velha e da Revolução de 1930 e seus reflexos em Jequié e na região. A trama ficcional faz referências ainda às manifestações religiosas e da cultura popular do sertão, como as festas de terreiros de Candomblé, os festejos de São João, do Reisado, aos livretos de cordel e aos adjuntórios, às figuras típicas, como o tropeiro e o mascate, e ao famoso Cabaré do Maracujá, que havia em Jequié e era encontro dos intelectuais e de gente simples do povo. Conta também o romance entre Anésia e Afonso. A trama ficcional se baseou também em narrativas orais de pessoas que ouviram histórias relacionadas aos Cauaçus ou que mesmo chegaram a conhecer personagens do romance, como a centenária Alvina Ferreira, que morreu com 112 anos e conviveu com Anésia Cauaçu, ou Braulino Antônio de Souza, que morreu aos 96 anos, não sem antes ter conhecido o pai de santo Heitor Gurunga. A obra procura também preservar a pronúncia e a morfossintaxe popular. Palavras e expressões da variante linguística do catingueiro das primeiras décadas do século XX foram conservadas. Anésia Cauaçu pode ser considerada uma meta-narrativa histórica em que o autor procura, na ficção, revelar fatos históricos e acontecimentos presentes na memória coletiva através da tradição oral.

LIVRO SERÁ TEMA DE DESFILE

O escritor Domingos Ailton ministrará dias 23 e 24 de outubro na UESB em Vitória da Conquista, durante o III Congresso Nacional do Cangaço, o minicurso Anésia Cauaçu: pioneira na participação “feminina” no cangaço. Já no dia 25 de outubro, aniversário de 116 anos de Emancipação Política de Jequié, o romancista e seu livro serão homenageados pelo Colégio Municipal Presidente Médici. Cenas do romance servirão de inspiração para alas do desfile. Domingos Ailton, que é membro fundador da Academia de Letras de Jequié e integrante da União Brasileira de Escritores – UBE desfilará em carro alegórico.



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