O
lançamento do livro: “50 anos inventados
em dias de sol (e algumas poesia)” do poeta Antonio Calloni é uma realização
do Casarão do Verbo e da Livraria Nobel, o Lançamento será na Livraria Nobel –
Shopping Conquista Sul dia 20 de Dezembro de 2013, às 19h. O livro fala sobre sua recém-chegada a fase “cinquentão”.
O
poeta afirma: “Me sinto muito feliz. Meu projeto de vida era ser ator, escritor
e ter uma família, e fui bem-sucedido nas três áreas. Meu projeto está
realizado”.
“Conto
algumas experiências minhas nesse livro, do que vivi nesses 50 anos, da minha
carreira, das novelas... mas o livro não é autobiográfico”, explica o ator, ao
citar um poema de Manoel de Barros - “noventa por cento do que escrevo é
invenção; só 10% é mentira”. “Essa é uma das frases que abre o livro, afinal
tem muita coisa que conto da minha vida que são fatos inventados, outros elaborados
poeticamente. O que é inventado vira verdade”.
Apaixonado
por literatura, Calloni não pensa em abandonar os palcos e as telas, mas não
pensa em escrever para televisão. “Tenho uma profunda admiração por autores de
novelas. Por quem escreve uma novela genial, medíocre e ruim. Acho dificílimo
escrever qualquer tipo de novela. Eles merecem aplausos sempre. Não me imagino,
por enquanto, escrevendo uma”.
TRECHO DO LIVRO 50
ANOS INVENTADOS EM DIAS DE SOL (E ALGUMAS POESIAS) – AINDA INÉDITO
Istambul
veio comigo ao Brasil.
Ser
o ponto de vista é inevitável, meu corpo e minha alma são sempre os mesmos,
“mudando” em si mesmo com uma impensada relação com a vida. E isso não tem nada
a ver com egocentrismo. Tem a ver com solidão. Minha pele é a mesma em qualquer
lugar do mundo; minha pequena loucura, também. A diferença é externa, e, graças
ao bom Deus, atua no meu humor. A existência precede mesmo a essência? Tenho as
minhas dúvidas, mas continuo me divertindo. O mundo vem a nós com suas
mesquitas, igrejas, mares, rios, pontes… Somos portadores eternos das nossas
horas.
Pego
um barco e vou para a ilha de Büyükada, uma das Princes’ Islands. Mergulho no
mar de Marmara, dou restos de peixe para as gaivotas, tomo uma garrafa de vinho
branco e turco e brilhante e inebriante, e convivo de maneira harmoniosa com o
mundo impreciso da Turquia enquanto a precisão do meu personagem Mustafa toma
conta de parte do meu corpo.
O
resultado do sol no meu rosto dá um certo trabalho à maquiadora no dia
seguinte. Mehmet, o assistente turco de Marlene, não fala português, nem inglês
e também não faz absolutamente nada, limita-se a sorrir, a olhar, a sumir, para
depois voltar ao set e continuar sem fazer absolutamente nada. Minto. Uma vez
Mehmet pegou um pente e entregou-o gentilmente à sua chefe que, fica
constantemente irada com o risonho e batiza o pobre de Mimete, porque através
da baixaria a memorização do nome torna-se mais fácil. “Vou preparar minha
galhada e partir para cima desse moleque, porque eu sou do caratê”, diz
Rubinho, o segundo maquiador, também irritado com o obsoleto turco. Apesar do
assistente (para sorte da produção), a grande maioria da equipe turca trabalha
muito e bem.
Todos
prontos, depois de termos acordado às 4h30 da manhã, vamos gravar no Palácio
Topkapi (sem o pingo no i). Vamos gravar no Palácio Küçüksu (a casa do meu
megamilionário personagem). Vamos gravar navegando pelo Bósforo no barco de 54
pés do Mustafa. Vamos gravar no Grand Bazar. Vamos gravar no helicóptero. Vamos
gravar na fortaleza da Europa usada como base para a tomada de Constantinopla.
Vamos gravar na Ásia e na Europa. Vamos gravar a preocupação do personagem com
o desejo da filha de conhecer os pais biológicos no Brasil. Vamos gravar na
ponte de Gálata repleta de pescadores.
Vamos
gravar.
Vamos
gravar.
Vamos
gravar.
Sinto
orgulho da minha fé cênica. Acredito. Acredito em tudo. A Istambul do Projac e
a Istambul da Turquia são um espelho insano e normal. Fé. Tertuliano, teólogo e
pai da igreja, dizia sobre os mistérios da fé: “Credo quia absurdum est” (Creio
porque é absurdo). Antonio, ator, escritor e pai de Pedro, diz sobre os
mistérios da fé (e do faz de conta): Creio por ser a melhor alternativa. É
preciso uma certa coragem para crer; sou ator, invento a minha crença, minha
coragem e minha fé dentro do meu espaço interno abastecido por várias paisagens
e rostos. Além da baixa filosofia, preciso acreditar para receber meu salário
no final do mês, qual é?! Ator, espírito volátil de engraçado desespero.
Fingidor, o mesmo do Pessoa. E, quando finge, é matemático, concreto,
assustadoramente real. Em Istambul ou entre fachadas cenográficas. Comendo
Lokum ou arroz e feijão. Ator. Adormecia no quarto do hotel assistindo às
novelas turcas, ouvindo suas falas uralo-altaicas, vendo trejeitos, tons,
tentando apreender… Nas ruas, a mesma coisa. Sem adormecer. “Não se dorme em
Euro”, disse-me uma vez a sábia Glória Maria. Viajar, aproveitar, acordar cedo
e andar. Observar sem fazer força. Ator. Comprar um relógio Franck Muller no
Istinye Park e exercer plenamente a poética do desnecessário (mais uma vez), e
o fascínio pelas horas mecânicas, de precioso design, amarradas ao pulso. Ator.
A pechincha no Grand Bazar. Um tesbih – adereço parecido com um terço usado
pelos muçulmanos para rezar ou para aliviar o estresse – com preço de saída de
110 liras turcas comprado por apenas 30. O que significa que poderia ter sido
5, ou menos. Liras turcas. Ator. Ivory, diz o vendedor. Não acredito. Acerto
era osso de carneiro. A castanha assada e o milho queimado no carrinho de rua.
O trânsito frenético. A Arca de Noé no fundo do Bósforo. Taxistas malandros.
Povo vigoroso e amoroso. O centro do mundo. Ator. O calor monstro. O sol
monstro. Minha família comigo durante três dias em Istambul para depois
prosseguir viagem. Minha família na Capadócia, em Izmir, em Troia, em Pérgamo,
em Dardanelos, em Pamukkale. A visita à casa da Virgem Maria. A medalha benta
pendurada no meu chaveiro para abençoar a vida. Meu alumbramento com o Palácio
Dolmabahçe. Estátuas de Atatürk – o homem que proclamou a república e
modernizou a bela Turquia, o pai dos turcos – por toda parte. O escritório no
apartamento do meu Leblon. Aqui. No dia 01/08/2012. Inapreensível agora. Fotos
armazenadas no computador, na parede, memórias em HDs externos. Escolhendo
cadeiras de Sergio Rodrigues para a futura reforma na sala. Vida. Ator.
Turquia. Brasil.
Estou
à espera – como Godot e como contratado da Rede Globo – do telefonema da
produção avisando do início das gravações no estúdio e na estonteante cidade
cenográfica.
A
seguir, cenas dos próximos capítulos.
Salve
Jorge!
27/07/2012
BREVE BIOGRAFIA
O
ator, escritor e poeta brasileiro Egizio Antonio Calloni, conhecido apenas como
Antonio Calloni, nasceu na cidade de São Paulo, no dia 6 de dezembro de 1961. Os
trabalhos televisivos mais notáveis de Calloni, que estreou na Rede Globo em
1986, quando fez a minissérie Anos Dourados, incluem Páginas da Vida, Começar
de Novo, Um Só Coração, O Clone, Os Maias, Terra Nostra, Chiquinha Gonzaga,
entre outras tramas. No cinema, atuou em filmes como O Efeito Ilha, Policarpo
Quaresma, A Paixão de Jacobina, Anjos do Sol, O Passageiro - Segredos de Adulto
e Herói do Brasil. Em cima dos palcos, ele fez parte do elenco das peças A
Barra do Jovem, Nosso Senhor da Lama, A Secreta Obscenidade de Cada Dia,
Vinicius do Amor Demais, entre outros espetáculos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário