terça-feira, 28 de janeiro de 2014

TÚNEL DO TEMPO: COMÉRCIO DE CRIANÇAS EM ITAPETINGA ENVERGONHOU O BRASIL


Em Itapetinga, cidade do sudoeste baiano, distante 612 Km de Salvador, mais de 300 crianças foram adotadas por casais estrangeiros  nos de 1994 e 1995. As adoções, que representaram um recorde no Brasil, foram denunciadas em rede nacional de tv, no programa Fantástico, no dia 26 de março de1995. Desde1992, entretanto, várias tentativas por parte da Pastoral da Criança, das Câmaras de Vereadores de vários municípios da região e até de magistrados de cidades vizinhas vinham tentando conter o fluxo migratório de crianças, sem sucesso. Todas as iniciativas esbarraram na determinação do Juiz da Comarca de Itapetinga na época, Ricardo Pires de Gouveia, que proferiu uma média de 10 sentenças por mês, em processos de adoções.


IMAGEM REPRODUÇÃO

O Juiz afirmava na época que os processos obedeciam às determinações do Estatuto da Criança e do Adolescente. No dia 28 de março a Câmara dos Vereadores de Itapetinga e o presidente da subseção da OAB local, Osvaldo Santos, entraram com uma representação contra ele no Tribunal de Justiça. A Corregedoria Geral apurou as denúncias contidas no documento referentes às adoções por estrangeiros, abuso de poder e comportamento incompatível com as funções que exerce. No dia seguinte, 29 de março, como de costume, mais três pedidos de adoção deram entrada no Fórum de Itapetinga.

As adoções só são consideradas assim entre as quatro paredes do pequeno Fórum da cidade, porque na realidade de Itapetinga e no dia a dia de seus habitantes elas representam uma nova atividade econômica que mudou a vida de dezenas de pessoas, aqueceu o pequeno comércio local, lotou o maior hotel da cidade, conhecido como o “hotel dos italianos” e introduziu, entre a população carente da periferia, a pratica aberrante da venda de crianças, encarada naturalmente como a única chance de “melhorar de vida”. Entretanto, a melhoria não chegou para nenhuma das mães que concordaram em trocar os filhos por dinheiro, aparelhos de tv ou material de construção. Algumas não receberam sequer o combinado com o intermediário. Mas são as próprias crianças, as mais atingidas pelas consequências do comércio explícito de seres humanos que se instalou na cidade.Elas já se referem à venda de parentes e amigos com naturalidade e muitas já têm consciência que paira da ameaça sobre elas. Vadinho, de seis anos, morador de Vila Riachão, afirma que “minha mãe não vai me vender, não, dona”. Tamires Barbosa dos Santos, também de seis anos, explica que “minha mãe vendeu Rafael pro italiano”, referindo-se ao irmão, de três anos, que em meados de janeiro deixou o barraco onde mora na rua Juvino Oliveira e acompanhou uma senhora que lhe prometeu guaraná. Na ocasião, Tamires, agarrada às pernas da mãe, recusouse a acompanhar o irmão. O drama dos filhos, entretanto, não comoveu a mãe, Valdinélia Silva Rocha, desempregada, que na primeira audiência confirmou, diante do juiz a adoção do filho caçula, apesar dos apelos do menino. “Ele queira voltar para casa, chorou e perguntou pelos amiguinhos e pela creche”. Valdinélia justifica-se dizendo- se ameaçada pelo ex-marido, Ariosvaldo Barbosa que, segundo ela, foi “quem fez a transação” e garante que não recebeu nenhum dinheiro para entregar Rafael. Rafael freqüentava a creche municipal e não é o único a ser retirado de creches e outras instituições para acompanhar casais de italianos. Maria da Paixão Dias, moradora à rua JJ 35, empregada doméstica e mãe de cinco filhos foi abandonada pelo marido e ficou sem ter onde morar. Tentou invadir uma casa, mas foi expulsa e acabou pedindo ajuda à Secretaria Municipal de Ação Social, que costuma alojar famílias desabrigadas, conseguindo a pequena casa onde, em seguida, passou a morar com os filhos. Em sua passagem pelo Fórum, para explicar a tentativa de invasão, o caso de D. Maria deve ter chamado a atenção dos interessados em “cadastrar” crianças. O fato é que, poucos dias depois do episódio, ela foi procurada pela advogada Eliene Bastos Ribeiro, várias vezes denunciada por tráfico de crianças que, acompanhada de uma “moça loura”, lhe propôs trocar três de seus filhos, de 8, 6 e 3 anospor “uma casa com tudo dentro”. D. Maria afirma que recusou a oferta porque “meus meninos não são filhos de porco nem de cachorro, não vou trocar por casa nenhuma, prefiro ficar por aí, à tôa.”Mas nem todas as mães contactadas pensam e agem como D. Maria. Para os agenciadores não é difícil “selecionar” possíveis doadoras. As propostas de “ajeitar a vida”,”levantar a casa” ou “ganhar uma feira por semana” aparecem sempre na hora certa, nos momentos em que são, praticamente irrecusáveis. Algumas chegam a escolher os meninos que representam problemas de saúde ou os “que dão mais trabalho” para entregar aos intermediários dos advogados. Até 1992, a Comarca de Itapetinga apresentava um índice de adoções zero enquanto o tráfico de crianças era denunciado em outras…Clique aqui e reveja o caso completo. http://www.cpvsp.org.br/upload/periodicos/pdf/PSACIBA031995016.pdf



FONTE DA MATÉRIA:
 http://www.blogdodigadiga.com.br/v1/




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