quarta-feira, 9 de outubro de 2013

HÁ 120 ANOS NASCIA UM DOS MAIORES INTELECTUAIS DA HISTÓRIA BRASILEIRA, MÁRIO RAUL DE MORAES ANDRADE



Mário de Andrade nasceu em São Paulo no dia 08 de Outubro de 1893, cidade onde morou durante quase toda a vida no número 320 da Rua Aurora profª Elaine, onde seus pais, Carlos Augusto de Andrade e Maria Luísa de Almeida Leite Moraes de Andrade também haviam morado. Durante sua infância foi considerado um pianista prodígio, tendo sido matriculado no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo em 1911. Recebeu educação formal apenas em música, mas foi autodidata em história, arte, e especialmente poesia. Dominava a língua francesa, tendo lido Rimbaud e os principais poetas simbolistas franceses durante a infância. Embora escrevesse poesia durante todo o período em que esteve no Conservatório, Andrade não pensava em fazê-lo profissionalmente até que a carreira de pianista profissional deixou de ser uma opção viável.


Carlos Augusto de Andrade, pai de Mário de Andrade.

Maria Luísa de Almeida Leite Moraes de Andrade, mãe de Mário de Andrade.

Em 1913, seu irmão Renato, então com quatorze anos de idade, morreu de um golpe recebido enquanto jogava futebol, o que causou um profundo choque em Andrade. Ele abandonou o conservatório e se retirou com a família para uma fazenda que possuíam em Araraquara. Ao retornar, sua habilidade de tocar piano havia sido afetada por um tremor nas mãos. Embora ele houvesse se formado no Conservatório, ele não se apresentou mais e começou a estudar canto e teoria musical com a intenção de se tornar um professor de música. Ao mesmo tempo, começou a ter um interesse mais sério pela literatura. Em 1917, ano de sua formatura, publicou seu primeiro livro de poemas, Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, sob o pseudônimo de Mário Sobral. O livro contém indícios de uma crescente percepção do autor em relação a uma identidade particularmente brasileira, mas, assim como a maior parte da poesia brasileira produzida na época, o faz num contexto fortemente ligado à literatura européia—especialmente francesa.




Seu primeiro livro parece não ter tido um impacto significativo, e Andrade decidiu ampliar o âmbito de sua escrita. Deixou São Paulo e viajou para o campo. Iniciou uma atividade que continuaria pelo resto da vida: o meticuloso trabalho de documentação sobre a história, o povo, a cultura e especialmente a música do interior do Brasil, tanto em São Paulo quanto no Nordeste8 Andrade também publicou ensaios em jornais de São Paulo, algumas vezes ilustrados por suas próprias fotografias, e foi, acima de tudo, acumulando informações sobre a vida e o folclore brasileiro. Entre as viagens, Andrade lecionava piano no Conservatório, havendo sido também, conforme relato de Oneyda Alvarenga, aluno de estética do poeta Venceslau de Queirós, sucedendo-o como professor no Conservatório após sua morte em 1921.
Mário de Andrade compôs uma única canção, intitulada "Viola Quebrada". A composição é uma parceria de Mário com Ary Kerner.

Há 120 anos nascia um dos maiores intelectuais da história brasileira. Mário Raul de Moraes Andrade, ou simplesmente o paulistano Mário de Andrade, foi o co-responsável pelos ideais que promoveram a formação do Modernismo Brasileiro, destacando-se como uma figura central por anos a frente do movimento da vanguarda paulistana. Romancista, poeta, crítico de arte, historiador e musicólogo, Mário de Andrade deixou um legado de obras importantes para nossa cultura. Literatura à parte, Mário foi um importante contribuinte para a formação e compreensão da música brasileira.


Casa onde nasceu Mário de Andrade em 1893, na Rua Aurora nº320.

Através das pesquisas realizadas ao longo da década de 30, fez-se um levantamento do patrimônio cultural das tradições folclóricas em todo o país, principalmente no nordeste brasileiro - que até os dias de hoje é ímpar no registro e na catalogação que proporcionam inúmeras pesquisas na área da musicologia e da antropologia. Para compreender melhor a formação e a compreensão da música popular, Mário de Andrade tinha como ideal a análise e a formação de um discurso erudito. Ou seja, é preciso discutir e refletir sobre nossa música e nossas manifestações culturais de maneira científica e criteriosa para proporcionar a sua valorização e consequentemente o desenvolvimento do povo brasileiro. Com isso, obras como Ensaios sobre a Música Brasileira (1928) e a Pequena História da Música (1929) foram as grandes contribuições para aqueles que pensam em iniciar seus estudos na área musical.

Geralmente, os livros de história da música são grandes e pesados. Afinal, são mais de dois mil anos de história. O caminho do desenvolvimento da música como nós ouvimos hoje iniciou-se na Grécia antiga, passando pela Idade Média, Barroco, Romantismo, até os dias atuais. Por isso o estudo da história da música é tão grande quanto o estudo da história social e política de nossa civilização.

Mário de Andrade escreveu, de acordo com seus ideais nacionalistas, o compêndio Pequena História da Música. Um compêndio é um livro em que colocamos o que é mais importante, ou seja, uma forma de encontrar rapidamente o essencial para nossa informação. Com isso, Mário proporcionou uma formação e divulgação do conhecimento musical a um público bem maior.

Curioso para saber um pouco mais sobre a história da música? Fica então a dica de leitura para estas férias. Um livro pequeno e rápido de ler que nos transporta para outros tempos e nos faz compreender o significado da importância da música em nossas vidas e como ela se desenvolveu até os dias atuais.

Mário no Conservatório Dramático e Musical.


 POEMA DE MÁRIO


Toada da esquina


Pouco antes do meio-dia
Senti que vinha.Esperei.
Veio.Passou.Foi assim
Como se a Lua passasse
Por essa picada estranha
Que viajo desde nascer.

A redoma toda verde
Do meu peito escureceu.
Noite de maio bondoso.
Lá vai a Lua passando.
Há mesmo essa refração
Que me bota no pescoço
O cachecol da Via-Látea
E a Lua na minha mão.

Mas quando quero gozar
O belo táctil luar,
E passo a mão sobre os dedos...
Tenho de desiludir-me .
Foi mentira dos sentidos,
Foi o orvalho.Nada mais.
Veio.Passou.Foi assim
Como se a Lua...

Suspiro talqual na infância.
- Que queres, Mário? - Mamãe,
Quero a Lua - Hoje é impossível,
Já vai longe. Tem paciência,
Te dou a Lua amanhã.

E espero. Esperas...Espera...

- Pinhões!
- Mário de Andrade, em "Poesias Completas", 1955.



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